Eleições 2024: resultado apertado em Ribeirão Preto deve aumentar dificuldades de novo prefeito governar, diz cientista político
29/10/2024
Ricardo Silva (PSD) venceu disputa com diferença de 687 votos. Recorde de abstenção indica que quase metade dos eleitores não escolheu nenhum dos dois candidatos que concorriam no segundo turno. Eleição acirrada divide eleitores e traz dificuldades ao novo prefeito de Ribeirão Preto
Seiscentos e oitenta e sete votos decidiram a eleição em Ribeirão Preto (SP) na disputa mais acirrada da história da cidade.
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O recorde de abstenções, somado aos votos brancos e nulos, evidenciam que quase metade dos eleitores não escolheu nenhum dos dois candidatos que concorriam no segundo turno.
Prefeito eleito, Ricardo Silva (PSD), teve 50,13% dos votos, 131.421 no total. Por outro lado, 179.759 não compareceram às urnas.
Ricardo Silva (PSD) vence a disputa pela Prefeitura de Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Para o cientista político Bruno Silva, o resultado apertado mostra a preferência do eleitor que optou por participar.
"Teve muitas pessoas que não participaram. Se a gente considerar, por exemplo, os brancos e nulos, associadas abstenções daqueles que, por qualquer motivo, não foram votar, nós estamos dizendo que mais de 45% do eleitorado em Ribeirão Preto não participou dessas eleições. Dentre os eleitores que se mobilizaram, votaram, escolheram seus candidatos, você vai ter uma posição que vai chegar em algo mais ou menos próximo, considerando a totalidade dos eleitores, a 25%. Considerando a cidade como um todo, porque quando se governa não vai se governar só pros seus eleitores, esse percentual tende a ser ainda menor".
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Ricardo Silva (PSD) e Marco Aurélio (Novo) disputam o 2º turno das eleições 2024 para a prefeitura de Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Bruno explica que o que aconteceu no segundo turno em Ribeirão Preto foi uma diferença de preferências políticas, onde o eleitor, muitas vezes, não quer ver um determinado candidato vencer a eleição em detrimento do outro.
"É aquilo que a gente costuma chamar de uma disputa plebiscitária dentro dessa lógica. Muitos dos votos que, por exemplo, foram canalizados para o candidato Marco Aurélio, se deram justamente dentro dessa lógica, porque a narrativa que Marco Aurélio construiu ao longo das eleições era no sentido de se apresentar, primeiro, como uma novidade, como alguém que viria fora do establishment político como um todo. Isso não é novo, se a gente parar pra pensar, em termos eleitorais. João Doria já teria feito isso em 2016, o que o levou à vitória como prefeito na ocasião. [Alexandre] Kalil em Belo Horizonte, também na época, havia feito isso e, dessa vez, Marco Aurélio tentou, de algum modo, se vender, se construir, dentro dessa lógica".
A diferença de 687 votos joga para Ricardo Silva a necessidade de se construir um consenso, a fim de apaziguar o clima eleitoral.
"Ele tem condições pra isso, observando fundamentalmente na Câmara Municipal, porque já tem aí praticamente uma maioria dentro do horizonte a ser construído, considerando, por exemplo, os partidos que fazem parte da sua coligação e os assentos que passam a ter na Câmara Municipal. Também não terá muitas dificuldades do ponto de vista de sentar, negociar e atrair mais pessoas, mais quadros políticos para dentro da sua base de sustentação política, até porque é um político experimentado, é um deputado federal, vem do Legislativo e entende a importância e o significado de se dar bem dentro dessa lógica com os parlamentares".
Pressões políticas
Ainda segundo Bruno, o novo prefeito ainda vai ter de lidar com pressões políticas diversas de um grupo que não se sente representado.
"Um grupo que não se sente contente com a sua candidatura e que, consequentemente, não se sentirá, de início, representado pelo seu governo. Para poder reverter essa situação, vai ter de, alguma forma, dar respostas que sejam incisivas e produtivas em relação aos próprios problemas que apresentou em campanha, principalmente mobilidade urbana, situação envolvendo uma reativação econômica das áreas centrais e a questão da saúde como um todo, que sempre pesa".
O cientista político também afirma que, independentemente do voto do eleitor em 2024, todos os olhos estarão sob Ricardo em 2025.
"Ricardo Silva terá de fazer um governo muito bom a fim de poder, de alguma forma, construir os consensos necessários e diminuir a resistência em relação ao seu nome por parte daqueles que foram participar. Os que não foram participar, estarão observando e, a depender da qualidade deste governo, podem, futuramente, vir a dar uma resposta nas urnas também".
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